Quando comecou 1998, ano em que o Vasco comemoraria o centenario da sua fundacao, havia uma grande expectativa em relacao ao desempenho esportivo do clube, tanto por parte de sua torcida, como das torcidas adversarias. Ainda estava bem fresco na memoria dos torcedores cariocas o que havia se passado com um certo clube tres anos antes, quando o seu presidente havia prometido "ganhar tudo no centenario". Como se sabe, o que acabou sucedendo foi um total fracasso. Em vez do "ano do centenario", o clube do presidente fanfarrao teve que se contentar com o "ano do sem-ter-nada". Obviamente, o Vasco nao queria passar pelo mesmo vexame, e dedicou-se de corpo e alma a estruturar-se para o sucesso, nao so no futebol, como em todos os esportes. E, para felicidade geral de milhoes de vascainos, o ano do centenario do clube veio a ser um dos mais vitoriosos de sua historia. Em todos os esportes, foram conquistados titulos significativos, entre os quais podemos orgulhosamente destacar o campeonato estadual e Trofeu Brasil de remo, o sul-americano de basquete, o estadual de handebol, campeonatos estadual e brasileiro de futebol feminino, e, no futebol, as conquistas da Taca Guanabara, Taca Rio, Campeonato Estadual e Copa Libertadores.
Com o objetivo de suprir as ausencias de Edmundo e Evair, que haviam deixado a equipe, o Vasco fez contratacoes de peso para o seu ataque, trazendo Donizete e Luizao, jogadores com passagem pela selecao brasileira. O resto do time continuou sendo a mesma base da campanha do Campeonato Brasileiro de 97. Para o Estadual de 98, a disparidade entre a forca do Vasco e os demais era tao aparente, que estes nao tiveram escrupulos em recorrer a manobras incriveis para tentar esvaziar a competicao e deslustrar o inevitavel titulo vascaino. Recorreram ate' `a molecagem de nao comparecer a campo, sob o pretexto de estarem protestando contra algumas transferencias de datas que o Vasco necessitava para evitar colisoes com compromissos pelas Copas do Brasil e Libertadores. Naturalmente fingiam que se esqueciam que a confusao do calendario foi culpa deles proprios, que tinham exigido a compressao da tabela do estadual para que pudessem dedicar-se exclusivamente ao Torneio Rio-Sao Paulo. Enfim, o fato e' que, as vitorias por WO tornaram a tarefa do Vasco ainda mais facil, e o clube tratou de conquistar com algumas rodadas de antecedencia os titulos da Taca Guanabara e Taca Rio e, consequentemente, do Campeonato Estadual, sem precisar de uma final.
Na Copa do Brasil, o time acabou nao conseguindo sua classificacao para a final, caindo na semifinal para o Cruzeiro. Porem a atencao de todos voltava-se para a Copa Libertadores. O inicio da campanha nao fora alentador, com o time conquistando apenas um ponto em tres partidas fora de casa. Os adversarios no grupo eram Guadalajara e America, do Mexico, e o Gremio. Nas tres partidas de volta, todas em Sao Januario, o Vasco nao podia pensar em perder para se classificar. De fato, a classificacao foi alcancada com duas vitorias indiscutiveis sobre o Gremio por 3 a 0 e sobre o Guadalajara por 2 a 0, e com o simples empate com o America, na ultima partida, o Vasco se classificou em segundo lugar no grupo. A partir dai', o time embalou na competicao e consecutivamente eliminou a Cruzeiro e Gremio, campeoes da Libertadores nos dois anos anteriores, e enfrentaria na semifinal o River Plate, apontado como a melhor equipe do continente e favorito para o titulo. Foi um confronto de proporcoes epicas. Apos superar a equipe argentina por 1 a 0 em Sao Januario, o Vasco arrancou um empate em 1 a 1 no Monumental de Nunez, sob intensa pressao, gracas a um golaco de Juninho, que havia entrado como substituto, numa magnifica cobranca de falta de longa distancia, faltando 8 minutos para o fim da partida. A final seria contra o Barcelona, de Guayaquil, em agosto, exatamente o mes em que as celebracoes pelo centenario atingiam o climax. A primeira partida foi um passeio em Sao Januario, e o placar de 2 a 0, com gols de Donizete e Luizao, saiu barato para os equatorianos. Mesmo assim, criou-se no Equador um clima de guerra para a segunda partida, e a torcida do Barcelona, ate' mesmo com uma certa dose de ingenuidade, acreditava que podia superar a vantagem vascaina. Mas na medida em que sua esperanca era destruida dentro do campo pelos craques vascainos, que ao final do primeiro tempo ja' haviam marcado 2 a 0, novamente por intermedio de Luizao e Donizete, os frustrados equatorianos nas arquibancadas do belissimo Estadio Monumental de Guayaquil passaram a agredir os torcedores vascainos presentes. Porem no final prevaleceu a alegria dos vascainos, pois com o resultado final de 2 a 1 podiam comemorar a inedita conquista da Copa Libertadores. Era mais um titulo sul-americano para o Vasco, numa repeticao do que havia acontecido 50 anos antes em Santiago do Chile. Houve uma grande carreata na volta da delegacao ao Rio, com milhares de vascainos desfilando pela cidade, do Galeao `a Zona Sul e terminando em Sao Januario, a festejar o centenario, a conquista e seus herois.
Depois disso, a partida em Toquio contra o campeao europeu, o Real Madrid, valendo o titulo mundial de clubes, passou a ser a prioridade. A equipe se apresentou no Campeonato Brasileiro com sucessivos desfalques - sendo o mais serio o de Pedrinho, que sofreu uma gravissima lesao no joelho apos uma entrada de um zagueiro do Cruzeiro -, enquanto que, na Copa Mercosul, o Vasco foi representado pelo Expressinho. Em ambas as competicoes, nao conseguiu classificacao para as fases decisivas. De qualquer forma, a estrategia previamente tracada era embarcar rumo a Toquio tao somente terminasse a fase de classificacao do Brasileiro, para poder se aclimatar e se acostumar com a diferenca de fuso horario no Japao. Desta maneira, mesmo que tivesse obtido a classificacao entre os oito primeiros - e esta so' escapou por causa de um empate com o Goias na ultima rodada - o Vasco teria que utilizar o Expressinho nas play-offs.
A caminho de Toquio, o Vasco ainda fez uma escala nos EUA, para um compromisso contra o DC United valendo a Copa Inter-Americana, que anualmente reune os campeoes das Copas Libertadores e da Concacaf. Na primeira partida, em Washington, o Vasco venceu por 1 a 0 e a segunda partida se realizaria durante a volta de Toquio ao Rio. O resultado positivo serviu para aumentar mais a motivacao para o confronto contra o Real Madrid. Os vascainos tinham motivos para estarem confiantes, pois teriam 10 dias para treinar e se condicionar para o confronto, enquanto que o campeao europeu, que chegaria na antevespera da partida, vinha cumprindo uma campanha de altos e baixos no campeonato espanhol, exibindo a cada jogo pontos vulneraveis na sua defesa. Lamentavelmente, quando a bola rolou, a equipe cruzmaltina nao soube impor um estilo de jogo ofensivo, que explorasse as deficiencias da zaga adversaria, e concedeu a iniciativa da partida aos espanhois. Passou o primeiro tempo sendo sufocada pelo adversario e acabou tomando um gol contra numa cabecada de extrema infelicidade do cabeca-de-area Nasa. A reacao parecia estar a caminho no segundo tempo, quando o Vasco equilibrou a partida, alcancou o empate num gol de Juninho, e partiu para cima do Real Madrid. Esteve a ponto de marcar, porem acabou tomando o segundo gol num contra-ataque, e nao teve mais tempo para se recuperar. A perda do titulo mundial abateu os jogadores e, quatro dias depois, um Vasco apatico foi derrotado pelo DC United por 2 a 0 em Fort Lauderdale, consequentemente deixando de ganhar tambem a Copa Inter-Americana. Uma conclusao triste, que os vascainos nao mereciam, de um ano que ate' entao havia lhes sido tao generoso em alegrias.
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